Admirável mundo novo
A busca pela tragédia vira atração nas redes
Para psicólogo, tal hábito é praticamente instintivo; pessoas passam os dias trocando fotos e informações sobre assassinatos e outros crimes em redes como o WhatsApp
Carlos Queiroz -
Horas após a morte do político Eduardo Campos, à época pré-candidato à Presidência pelo PSB, fotos de seu corpo já se espalhavam pelas redes sociais. Dois dias antes, a filha do ator Robin Williams recebeu em seu celular imagens de seu pai após o suicídio. Não é preciso ir longe: em Pelotas multiplicam-se grupos nas redes sociais - com dezenas de milhares de seguidores - cuja finalidade é propagar imagens e notícias de homicídios, acidentes, entre outras tragédias. Hábito que não para de crescer na era da comunicação pela redes sociais.
Juliano Castro é administrador de um grupo no WhatsApp voltado a divulgar principalmente assassinatos e furtos ocorridos em Pelotas. Ele explica que exerce a função por "espírito de ordem". Diz sentir tristeza ao ler os casos sendo divulgados por ver, neles, "a falta de respeito com que o governo do Estado vem tratando o povo gaúcho, policiais e servidores".
Juliano diz que participa de grupos como o que administra pela garantia de que "eles dão informação em tempo real e sem manipulações".
Explicação
O psicólogo Cláudio Drews explica que esse hábito de procurar notícias sobre casos policiais que por muitas vezes não atingem diretamente aquele que as buscam pode ser explicado pela psicologia evolucionária. Para ele, trata-se de algo praticamente instintivo: o organismo vai atrás daquilo que, acredita, é indispensável a sua sobrevivência. "Para o ser humano é mais importante para se manter vivo notícias que alertam do que as tranquilas", explica. "Quanto vês uma foto de um assassinato ou de um acidente teu organismo entende como um risco. Daí tu, em casa, sente alívio e até um certo prazer pelo distanciamento daquele acontecimento", segue.
Drews acrescenta que o hábito de propagar fotos e notícias de homicídios e acidentes é tão problemático quanto recebê-las. Não há, segundo ele, uma preocupação com a verdade, mas sim com a audiência. "As redes sociais se transformaram em ferramentas para se expor. As pessoas sabem que esse tipo de conteúdo chama a atenção", comenta.
Para o psicólogo, enfim, esse hábito é um malefício à saúde. "Uma vez que tu voltas à tua rotina essa resposta do organismo cessa. Esse jogo de ativar e desativar é perigoso porque cada vez se torna necessário um estímulo mais forte. Nesse caso, uma imagem mais impactante", afirma, recomendando que se evite a autoexposição.
Grupos de Pelotas e número de seguidores
Homicídios em Pelotas - 16.722 seguidores
Homicídios Pelotas e região - 18.222 seguidores
(*) Pelos menos 16 grupos sobre homicídios em Pelotas são encontrados no Facebook
(*) Com a palavra "blitz pelotas" são encontrados 24 grupos no Facebook
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